exemplo de vida | paulo henrique velloso

Hoje tenho o prazer de apresentar pra vocês a história de Paulo Henrique Velloso. Em junho desse ano, logo quando estava iniciando meu tratamento pré-transplante, recebi aqui em casa um exemplar da Revista ABRALE, que vocês podem ler online clicando aqui. Lá pelas tantas, dei de cara com a matéria O HOMEM DE FERRO, que contava a história de Paulo Henrique. Eu estava absurdamente desanimada por ter que fazer todo o tratamento novamente, sem saber se conseguiria me formar na faculdade, sem saber como era o transplante, sem saber se iria sobreviver a tudo isso… e ler essa super história de vida me motivou TANTO, que quando surgiu a ideia de ter o EXEMPLO DE VIDA aqui no blog, o Paulo Henrique foi uma das primeiras pessoas em que pensei! Bom, vou deixar que ele mesmo conte como foi!

PAULO HENRIQUE VELLOSO

A adolescência é uma época incrível. Nesta fase da vida passamos por inúmeras experiências novas. Época em que fazemos tantos amigos. Tempo de namorar e fazer festa, mas também tempo para estudar e sonhar com o futuro. Lembro da minha adolescência, quando não podia perder uma única festa. Tinha a impressão que, ao chegar na segunda-feira na escola, estaria por fora das novidades, do que aconteceu naquela festa. Praticamente estaria excluído das conversas. E a menina que eu gostava, será que estaria na festa? Será que teria conhecido alguém?

Também na adolescência começamos a nos preocupar com o futuro. O vestibular está a cada dia mais próximo. Acho que quero ser engenheiro! Olha só o índice de inscritos por vaga para engenharia civil no ano passado! Vou ter que suar pra ser aprovado! Aos 17 anos, quando estava passando por tudo isso, deparei-me com outra coisa, que jamais imaginaria, que acabou marcando a minha vida.

Assistia ao jogo do Brasil contra a Noruega, na Copa do Mundo de 1998, quando senti fortes dores no testículo. Uma dor insuportável, que não me permitiu assistir àquele jogo. Naquela semana, consultei alguns médicos e foi agendada uma cirurgia. Alguns dias depois o resultado da biópsia: eu estava com seminoma, um tipo de câncer que ataca as células germinativas.

 O mundo desabou. Câncer, eu estava com câncer.

Fiz o tratamento com radioterapia, o que me impediu de aproveitar a praia naquele verão. Moro em Florianópolis, e sempre gostei muito de ir a praia. Mas a doença não me tirou só a praia. O tratamento e os efeitos colaterais me fizeram perder muitas coisas da adolescência, como as festas e algumas aulas. Sentia que estava perdendo uma época única da minha vida, dias preciosos que eu não poderia mais reviver. Tudo isso com as dúvidas que apareciam de vez em quando. Será que vou me curar?

 Os médicos alertaram para o risco de ficar estéril por causa do tratamento. Devido a isso, “guardei” meus filhos em um banco de sêmen em Porto Alegre. Terminado o tratamento, passei a fazer exames periódicos, que mostravam que eu realmente tinha me curado!

Fui viver a vida, vida normal!

 Três anos mais tarde, aos 20 anos, eu estava cursando a faculdade de Engenharia Civil. Uma noite, com os amigos da faculdade, resolvemos comer mariscos. No dia seguinte, acordei com alguns nódulos na garganta. Pensei que seria uma reação alérgica a mariscos. Os nódulos ficaram ali por alguns dias, e aí sumiram.

Por insistência de meu médico, resolvemos fazer uma biópsia. Dias depois, descobrimos que eu estava com um Linfoma Não-Hodgkin, um câncer diferente daquele outro que eu tive. Desta vez, eu teria que enfrentar, além da radioterapia, o tratamento com quimioterapia.

 Os efeitos colaterais foram diferentes do primeiro tratamento. Muito mais fortes, lembro da fraqueza que eu tinha nos dias seguintes à aplicação. Para almoçar, por exemplo, precisava parar e respirar, pois o simples movimento de levar o garfo à boca me deixava exausto.  Também não conseguia tomar banho em pé, devido à essa fraqueza.

À noite, deitado em minha cama, às vezes surgiam as dúvidas. Será que vou me curar? Acordava e via meu travesseiro cheio de fios de cabelo. Tentava pensar que o tratamento estava fazendo efeito. Mas, ao mesmo tempo que pensava isso, me olhava no espelho e via o que a doença estava fazendo comigo: meus cabelos caindo, minhas sobrancelhas, o rosto inchado por causa da medicação, enjoos.

Lembro das sessões de quimioterapia. Era uma sala com várias pessoas fazendo a aplicação. Lembro de um senhor com sotaque italiano, sempre sorridente. Vi que ali tinham pessoas mais novas e mais velhas do que eu. Pessoas com quadros muito mais delicados. E mesmo assim, essas pessoas estavam alegres, sorridentes. Eu podia ficar ali só ouvindo as conversas. Aquilo era uma terapia para mim. Percebi que não tinha o direito de ficar triste ou pessimista. Foram oito meses de tratamento. Depois, novamente os exames periódicos.

Os exames mostravam que eu estava curado! Vida normal, de novo!

Três anos depois, aos 23 anos, jogava futebol com meus amigos quando coloquei a mão em meu pescoço e senti um “caroço”. Já imaginei o que poderia ser… Só que, para a minha surpresa, desta vez descobrimos que eu estava com um Linfoma de Hodgkin. Meu médico disse que não tinha nenhuma relação com o outro câncer.

Lembro que fui em uma tarde ao médico para ele me dar o diagnóstico . Cheguei em casa e minha mãe, já com lágrimas nos olhos, me perguntou como foi. Falei que estava com outro câncer. Nos abraçamos e começamos a chorar. Minha mãe disse “Vamos vencer de novo, já vencemos outras duas vezes! Vamos vencer de novo!!!”. Acho que ela já sabia o resultado do exame, mas não teve coragem para me falar.

Pior do que estar com a doença, é ver as pessoas que gostam da gente, família e amigos, tristes por nos ver com a doença. As pessoas tentam se mostrar fortes, mas sentimos nos olhares o medo delas. Às vezes até olhares de pena. E tudo isso me trazia algumas dúvidas, pensava se realmente era verdade que eu tinha chances de cura.

A terceira vez que tive câncer foi a mais difícil. Embora eu já estivesse “experiente”, sabendo como era o tratamento, eu ficava pensando “Quando isso vai acabar?”.

Apesar das dúvidas, acho que sempre acreditei na cura. Via aquilo como um período que eu teria que passar, mas que logo estaria bom. Lembro de entrar na internet e ver algumas pessoas que estavam fazendo tratamento contra o câncer. Elas sabiam tudo sobre a doença! Praticamente especialistas. Eu só quis saber três coisas de meu médico: se tinha cura, qual o tratamento, e quanto tempo levaria. Foram seis meses de quimioterapia. Após isso, os exames periódicos para acompanhamento.

Alguns meses depois que terminei o tratamento, quando meu médico me liberou para fazer atividades físicas, comecei a correr na praia. Não sei exatamente porque comecei. Mas aquilo me fazia bem. Era meu momento de conversar comigo mesmo, de pensar na vida e também de não pensar em nada.

Sem orientação profissional, acabei machucando meu joelho. Fui ao ortopedista e ele me liberou para andar de bicicleta e fazer natação, mas devia interromper a corrida por alguns meses. Comecei a pedalar aos finais de semana e a fazer aulas de natação.

Aqui em Florianópolis acontece uma competição chamada IRONMAN (homem de ferro, em inglês), que envolve 3,8km de natação no mar, 180km de ciclismo e 42km de corrida, tudo feito em um mesmo dia e nesta ordem.

Eu já estava praticando as três modalidades (natação, ciclismo e corrida) quando fui assistir a prova e decidi que queria fazê-la.

Parecia um sonho impossível…

Resolvi procurar ajuda profissional, entrei em contato com a treinadora e atleta Mariana Andrade, que começou a me passar treinos diários, sempre envolvendo duas modalidades por dia. Como trabalho como engenheiro durante o dia, precisei fazer os treinos de manhã, bem cedo, ou à noite. Foram muitos e muitos treinos. Treinos de natação em manhãs frias de inverno, treinos na chuva à noite, treinos com sol escaldante aos finais de semana.

Finalmente chegou o dia! 27 de maio de 2012. Lá estava eu alinhando às 6h50min da manhã para a largada, com mais 2.000 atletas para enfrentar todos aqueles quilômetros.

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Ao longo da prova, passou um filme em minha cabeça. Lembrei que 7 anos atrás eu enfrentava o câncer pela terceira vez. Durante a prova, comecei a fazer uma contagem regressiva dos quilômetros para terminar a prova, assim como fazia para me animar com as sessões de quimioterapia. Interessante como a doença, entre tantos aprendizados, me deu força mental para fazer essa prova.

Pensava em minha mãe e minha esposa, Thaís, me esperando na linha de chegada.

Minha mãe que enfrentou comigo tantas outras batalhas, sempre me apoiando e com a certeza que venceríamos. E a Thaís, que conheci depois do tratamento, mas que sempre teve muito orgulho da minha história, e que vive comigo o dia a dia. Ela que divide comigo os sonhos, inclusive do dia em que veremos o rostinho do nosso bebê, que está “guardado em Porto Alegre”.

Paulo e Thaís casaram em maio de 2009!
Paulo e Thaís casaram em maio de 2009!
Thaís, Paulo Henrique e os filhos - caninos, por enquanto!
Thaís, Paulo Henrique e os filhos – caninos, por enquanto!

ONZE HORAS E VINTE E CINCO MINUTOS foi o tempo que precisei para terminar a prova. Muito menos que o tempo que levei para fazer os três tratamentos a que fui submetido, mas suficiente para ter a certeza que estou curado, que existe vida após o câncer e que ela pode ser muito melhor que a vida que levávamos antes.

Voa, Paulo Henrique! Digo, pedala/nada/corre!!!!
Voa, Paulo Henrique! Digo, pedala/nada/corre!!!!

Considero que fazer planos é a melhor coisa que podemos fazer quando estamos fazendo o tratamento contra o câncer. É preciso pensar no futuro, pois o tratamento é apenas um período pelo qual passaremos.

Hoje vejo o câncer de forma diferente, e percebo que passar por tudo que passei me permitiu “crescer”. Permitiu não somente mudar meu estilo de vida, mas também me ensinou a acreditar sempre. Aprendi a gostar de acorda cedo, para aproveitar mais o dia, viver cada segundo da vida. E por fim, minha história me ensinou o mais importante: a dar valor para aquilo que realmente importa: A FAMÍLIA.” 

ADC EV paulo

História I N C R Í V E L, né???!!! Não consigo nem explicar o quão motivador foi ler tudo isso naquela revista, exatamente quando eu me preparava para enfrentar o “marvado” pela segunda vez! Em 2014, Paulo Henrique vai participar pela TERCEIRA vez do Ironman!!!! Estou motivada a competir com ele em 2015, e vocês?!Tô brincs, se eu conseguir correr todo o calçadão de Ipanema já me sinto ~campeã~!

Parabéns mais uma vez, Paulo, Thaís e dona Eunice (mãe do Paulo), que vocês tenham muitas, muitas felicidades nas vidas de vocês!

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. Quer mandar uma dúvida ou sugestão? Escreva para alemdocabelo@gmail.com, vou adorar responder!

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Fonte das Imagens: arquivo pessoal de Paulo Henrique Velloso

7 comentários sobre “exemplo de vida | paulo henrique velloso

  1. História de várias batalhas e você venceu essa guerra.
    Paulo, também estou com linfoma não Hodgkin,e estou na oitava quimio, as minhas quimios eu faço internado, e isolado, fico hospitalizado de 4 a 5 dias. E é bem como vc comentou, são diversos tipos de reaçãoes, enjo, cansaço, mal estar no corpo,… mas tudo isso estou superando, em fim me agarei em Deus e minha familia e estou vencendo.familia, minha espõsa e meus filhos e amigos sempre me dando forças.

  2. Oi Flávia!!!
    Sabe que eu treino com o Paulinho…é assim que chamamos ele!
    Quando eu comecei a treinar pro Iron, na mesma assessoria dele, não sabia da sua história de vida. Mas num dia desses de longão (chamamos assim um treino muito longo) vi que ele estava dando uma entrevista, e durante o treino fiz uma brincadeira com ele sobre estar ficando famoso. Foi quando ele me contou que a entrevista era em relação a ter vencido a doença. Tudo isto enquanto pedalávamos…falei pra ele que meu pai já passou por dois inclusive o Não-Hodgkin e tomei ele, o Paulinho, como referência de superação. Fiz o Iron com ele em 2013 e vou ter o prazer de fazer também em 2014…Quem sabe você não engrossa o caldo na nossa assessoria?
    Saúde e Felicidade para você!
    À propósito…serás bem vinda nos treinos rumo ao Iron 2015!

    1. Olá, Jorge!!!

      Que legal que vocês são colegas de treino!!! Quem sabe até 2050 eu consiga, vou ter que melhorar muiiiiiiito minhas habilidades!!! Hehehehe Felicidades pra você também!!!!

  3. Que história linda! Parabéns, Flavinha, por divulgares ajudando pessoas, mostrando como é possível enfrentar a doença. Vocês dois, tu e o Paulo, são vencedores!

  4. Ai, Flá! Chorei. Que coisa linda. Como é legal ler a história das pessoas que, como tu, tiveram força e coragem pra enfrentar os problemas. E é bonito ver como essa força se transforma em motivação pra felicidade. Parabéns ao Paulo e à ti, que são campeões.

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